Jogos pay to win (P2W), ou "pague para vencer", em tradução direta, são aqueles onde é possível comprar recursos capazes beneficiar a gameplay, oferecendo vantagens práticas em relação a outros jogadores, ou onde a progressão depende de compras externas. Títulos como Diablo Immortal e Gran Turismo 7 são exemplos e já até renderam polêmicas entre os usuários. Star Wars Battlefront 2 e FIFA, em alguns aspectos, também se encaixam nestes quesitos, e há ainda aqueles que não o fazem de forma tão prejudicial para quem decide não pagar.
Esses títulos podem ter download gratuito ou pago, e a principal característica é o esquema de monetização em microtransações no sentido de melhorar seu jogo, independente do formato. Vale avisar, porém, que o esquema não se restringe aos games AAA — também podem aparecer em produções de menor escopo. Veja mais detalhes sobre o assunto a seguir.
O que são games pay to win (P2W)?
O conceito mais básico de jogos pay to win é ser possível obter alguma vantagem via microtransações em dinheiro real. Pode ser uma arma mais poderosa, um aumento de poder do personagem, um carro que corre mais rápido que os outros ou até mesmo acesso a algum tipo de lugar especial do mapa de um jogo. Também é possível encontrar games P2W que travam a progressão do jogador (ou a dificultam), caso ele não compre um determinado item com dinheiro real. Isso aconteceu, por exemplo, com o game Terra Média: Sombras da Guerra, o que gerou muita polêmica na época do lançamento.
É bem comum ver games gratuitos com mecânicas de pay to win. Títulos de celular estão entre os mais numeroso e populares, como Clash of Clans, Clash Royale e Dungeon Keeper. Nesse caso, eles também podem ser chamados de games "freemium", união de free, "grátis" em português, e premium. No entanto, vale ressaltar que essa não é uma regra e que existem games pagos que ainda assim contam com microtransações para entregar uma gameplay completa.
Isso porque, ao ver que este formato pode significar um aumento de renda, os estúdios de jogos também começaram a adotar a prática em lançamentos comuns vendidos a “preço cheio” no mercado.
Star Wars Battlefront 2, por exemplo, foi lançado em 2017 com preço de US$ 60 (algo que, na época, girava em torno dos R$ 250) no mercado internacional. Mesmo assim, ainda era possível gastar mais dinheiro para ter acesso a caixas que concediam armas e personagens exclusivos, com habilidades e poderes diferentes – as chamadas loot boxes. Além das vantagens, era através delas que os jogadores tinham acessos aos personagens mais icônicos da franquia.
Vários relatos foram publicados em fóruns da Internet a respeito do formato agressivo de microtransações. A Edição de Luxo do jogo custava US$ 80 (cerca de R$ 350) e, mesmo assim, não concedia acesso a nenhuma vantagem adicional em relação à jogabilidade — era preciso gastar ainda mais dentro do jogo para aproveitá-lo. Evidentemente, isso rendeu inúmeros problemas para o título e também para a produtora EA.
Quando falamos de jogos gratuitos, a experiência pode ser ainda mais frustrante. É comum que, nesse caso, as microtransações sejam ainda mais necessárias e que o jogo passe a depender da compra. Mas, vale ressaltar que, no geral, o pay to win é um formato válido e dentro da legalidade. Não há nada de ilegal em utilizar o recurso para lançar um game. Contudo, a comunidade pode reagir mal a um lançamento deste tipo por limitar a experiência de gameplay.
Quais jogos podem ser considerados P2W?
A lista de jogos que sustentam ou já sustentaram práticas pay to win é grande. Além dos já citados Star Wars Battlefront 2, Clash of Clans, Clash Royale, Diablo Immortal, Gran Turismo 7 e Warframe, alguns outros representantes famosos são:
- NBA 2K
- Destiny 2
- APB Reloaded
- Star Wars Galaxy Heroes
- Candy Crush Saga
- Rise of Kingdoms
- Roblox
- Marvel’s Avengers
Enquanto a série NBA 2K já foi apontada como pay to win ao oferecer moedas e jogadores como vantagem, em Destiny 2 é possível comprar rankings. Já em Marvel’s Avengers, os jogadores conseguem comprar XP, enquanto Candy Crush Saga vende itens voltados para a progressão mais rápida e Roblox tem minigames que vendem armas poderosas, entre outros exemplos.
O uso de recursos pay to win em jogos rendem inúmeras polêmicas. Além da já citada envolvendo Star Wars Battlefront 2, outro exemplo recente foi com Diablo Immortal. O jogo saiu para celulares, consoles e PC gratuitamente, mas oferece opções que geram vantagens para quem decide pagar, facilitando a progressão. Além disso, o game também dificulta a obtenção de itens importantes para a evolução de níveis, o que fica ainda mais agressivo por se tratar de um jogo com modo PvP.
Pouco depois do lançamento, um streamer chegou a comprar um item de US$ 81 mil, capaz de evoluir seu personagem, mas depois destruiu o item e apagou sua conta como forma de protesto ao modelo de microtransações do game. Isso tornou o título um dos mais mal avaliados por jogadores no site Metacritic, agregador de análises da crítica e de jogadores.
A média da nota da versão PC chegou a bater 0,2/10, com mais de duas mil críticas de fãs. Outra polêmica recente envolvendo o game da Blizzard é a de um jogador que gastou mais de meio milhão de reais para fortalecer o personagem e não consegue mais jogar, já que não encontra adversários.
Já Gran Turismo 7 fomentou a ira dos fãs por vender carros especiais por valores que variavam entre R$ 150 e R$ 300 — praticamente o preço do próprio jogo. Os veículos também poderiam ser obtidos jogando, sem gastar dinheiro real, mas, para isso, os players teriam que dedicar centenas de horas à jogatina. O alto preço causou revolta entre o público e o diretor do game, Kazunori Yamauchi, reagiu às críticas negativas dizendo que o valor dos carros está vinculado ao preço e raridade na vida real.
Mas nem todo game causa revolta com o modelo P2W. O caso de Warframe, por exemplo, é diferente. O jogo gratuito de PC e consoles deixa você pagar dinheiro real para evoluir mais rápido, mas uma parte da evolução é compartilhada com todos os jogadores. Desta forma, a empresa não deixa de ganhar dinheiro e os usuários não se chateiam tanto com outros que desejam pagar para ter benefícios.
Como identificar um jogo P2W?
É possível identificar um jogo pay to win antes mesmo de jogá-lo. Praticamente todos os games gratuitos oferecem a possibilidade de microtransações, mas existem diferenças significativas quanto ao que pode ser obtido com elas. Há games grátis que oferecem pagamentos apenas para itens cosméticos, como skins e acessórios, o que não impacta na gameplay. É o caso de Fortnite, que também oferece a possibilidade de comprar passes de batalha, mas sem oferecer vantagens por isso.
Então, especialmente quando um game for anunciado como grátis, é importante considerar que tipo de item ele vai ofertar em suas microtransações. Também vale dar uma olhada nas declarações dos desenvolvedores a respeito do projeto.
Em Project L, novo jogo de luta da Riot Games, a produtora chegou a prometer que as microtransações seriam amigáveis aos bolsos dos jogadores. Já em Skate., novo game da franquia gratuito que assume uma proposta de metaverso, os desenvolvedores deixaram claro que as compras serão exclusivamente cosméticas.
Vale ressaltar, ainda, que o fato de um game ser pay to win não quer dizer que seja ruim -- muitos deles são divertidos. Mas é preciso estar atento ao fato de que é possível se frustrar jogando, então tenha sempre isso em mente antes de iniciar a jogatina em algum game que adote este modelo.